Após quase quatro décadas de serviço público, seria expectável que a passagem à disponibilidade fosse um processo planeado e articulado entre o trabalhador e a instituição. Um momento de transição faseada que conciliasse os condicionalismos pessoais de uma nova etapa da vida com os interesses da PJ, que perde um elemento experiente e conhecedor, com saberes para transferir para as gerações futuras.
Mas não. A passagem à disponibilidade para um trabalhador com mais de 36 anos de serviço começa com opacidade e termina com uma espécie de despejo.
Aos requerentes é escondida a posição concreta na ordenação final de passagem à disponibilidade. Mais tarde, num dia de outono, uma ventania traz o Diário da República com o despacho que os afasta das funções, de um dia para o outro. Segue-se a entrega do espólio, sem esquecer a obrigatória devolução do cartão de acesso às instalações, não vá o ‘despejado’ pensar visitar os seus antigos companheiros sem a expressa autorização. Depois um ‘até sempre’, organizado pelos seus pares, mas esquecido pelos dirigentes, como quem esquece os incómodos idosos. E assim se encerra, sem a devida despedida e reconhecimento, uma vida de serviço.

