Apercebemo-nos há muito que, no âmbito da administração pública, existe um guião com três procedimentos simples para lidar com os problemas que vão surgindo. Assim, e primeiramente, deve-se proceder à negação de todo e qualquer problema: que não, não há nenhum, é uma efabulação, uma perspetiva errada, enfim, não é preciso resolver o que não existe.
No caso de falhar esta abordagem, deve-se seguidamente apontar o dedo ao mensageiro. Se este ficar convencido de que só ele é que traz problemas, e que só veio aborrecer, pode ser que não volte a falar do assunto, e é este assim mais facilmente ignorado.
Por último, no caso de o problema não poder ser negado nem ignorado, há que arranjar rapidamente um culpado, e fazer ver aos demais que o problema só existe por culpa de alguém que provocou uma falha no sistema que, até à data, era perfeito.
Seguindo à risca este guião, o astuto responsável poderá construir uma confortável carreira onde não lhe serão reconhecidas grandes decisões, mas, por outro lado, também não se irá estafar com problemas que não são dele. Afinal, é pago para manter o que lhe foi confiado e não para mudar o mundo.