Durante décadas, entrar para a Polícia Judiciária era um sonho de muitos concretizado por poucos.
Dos milhares que concorriam, as dezenas que entravam almejavam permanecer na instituição até à idade da reforma. A PJ não era então um ofício, era uma forma de vida.
Anos passaram. Agora, não só há cada vez menos candidatos, como alguns procuram, legitimamente, o emprego seguro que escasseia noutras áreas. Outros há que, compreensivelmente, planeiam outros concursos ainda antes de decorridos os cinco anos de permanência obrigatória.
Este câmbio de mentalidades não se deve a nenhuma mudança de visão entre gerações. É, sobretudo, o reflexo da ausência do reconhecimento devido – a vários níveis – a quem dá muito mais do que alguma vez lhe poderia ser exigido.
E se a recompensa do Estado aos investigadores deveria ser concretizada através da regulamentação de condições dignas de trabalho e de subsistência, também partilhamos do pensamento de quem trabalhou mais de 30 anos nas áreas mais sensíveis e que dizia: “para quem efetivamente merece, às vezes o que falta é uma palavra por parte de quem o deve fazer”.
É que nem isso.